Entrevista a João Maurílio Basílio


João Maurílio Basílio é Capitão Chefe de Banda de Música, estando actualmente colocado na Zona Militar da Madeira (ZMM), onde chefia a Banda Militar. Desempenhou também as funções de Chefe da Banda do Exército tendo sido responsável pela 1.ª edição da revista “Eurídice”, periódico pioneiro na temática das bandas militares. Tendo em consideração o trabalho pedagógico realizado no Funchal, bem como as várias parcerias realizadas com o Gabinete Coordenador de Educação Artística (GCEA), entrevistámos o Capitão João Basílio para saber a sua opinião sobre: (1) O papel cultural da Banda da ZMM na Região (2); O impacto da parceria entre a Banda Militar e o GCEA ao longo dos últimos anos. (3); Os principais desafios colocados aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas.

Paulo Esteireiro: A Banda da ZMM tem uma longa história na Região. Actualmente, qual é o papel cultural desta Banda na Madeira?

João Maurílio Basílio: A Banda Militar da Madeira está configurada no organigrama do Exército Português para o Comando da Zona Militar da Madeira. O seu desempenho enquadra-se no determinado na legislação em vigor para uma Banda Militar desta estrutura, num contexto que visa duas vertentes culturais diversificadas.

Na primeira das suas grandes áreas de actuação, a Banda Militar contribui com o apoio musical em todas as cerimónias militares em que esteja indigitada superiormente. Por outras palavras, a Banda Militar deverá estar presente nas cerimónias militares da mais variada índole, executando Hinos Nacionais ou similares, e/ou marchas militares, conforme as exigências protocolares o determinarem. A título de exemplo, aquando da vinda do Rei de Espanha à Região Autónoma da Madeira em Julho último, a Banda Militar executou o Hino Nacional de Espanha, seguindo-se o de Portugal em continência a esta Alta Entidade. Seguiram-se marchas militares para a revista e desfile.

Numa outra área de acção, a Banda Militar deve realizar concertos protagonizados quer pela instituição civil, quer pela militar, enquadrados num regime sócio-cultural que dignifique a instituição Exército e os princípios e valores que a sustentam.

Desde a implantação da Banda Militar da Madeira na RAM, que se reporta ao início do séc. XIX, que a sua actuação assenta nestas duas linhas mestras, nas quais se fundamenta para executar inúmeras cerimónias, concertos e actuações. Através desta acção tem desenvolvido um papel militar e cultural junto da sociedade civil, tendo contribuído fortemente para a génese e desenvolvimento de várias associações culturais desta Região. O papel cultural desta Banda Militar e dos seus efectivos encontra-se em metamorfose constante a avaliar pelos contributos recorrentes que os militares músicos prestam no âmbito da docência, direcção musical e execução instrumental em instituições culturais da Região como o Conservatório – Escola das artes, GCEA, filarmónicas e outras associações artísticas.

PE: A Banda da ZMM tem realizado vários projectos em parceria com o GCEA (Concerto dia da RAM, Comemorações do Dia da Música, Concertos de Natal, entre outros). Qual o impacto destas parcerias no panorama cultural madeirense?

JMB: As parcerias artísticas da Banda Militar da Madeira com o GCEA têm primado por uma grande assertividade, fundamentada num padrão de rigor artístico e disciplina cujo intuito visou o cumprimento com sucesso dos programas propostos.

Vários foram os concertos em que as duas instituições estiveram interligadas, quer através do Governo Regional da Madeira, protagonizado pelo GCEA, quer pelo Exercito Português, através do Comando da Zona Militar da Madeira. Fazendo uma oportuna analepse, para melhor situar os leitores nos projectos realizados, relevo alguns dos melhores momentos musicais de eleição:

Concerto de Natal em 2005, no Teatro Municipal Baltazar Dias, com o Coro Infantil, Juvenil e Regina Pacis do GCEA; Concertos de Aniversário do Comando da Zona Militar da Madeira com o Coro Juvenil e o Ensemble Regina Pacis, em 2007 e 2009, Concerto relativo ao Dia do Exército em 2009, com a Orquestra de Bandolins e o cantor João Nuno e Concertos relativos ao Dia da RAM e Dia Mundial da Música, com a Orquestra de Sopros do GCEA, num perfil estratégico que remonta ao ano de 2003. Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os intervenientes dos agrupamentos referidos a disponibilidade e colaboração demonstradas.

A comunidade madeirense reagiu positivamente a estas parcerias, como se observou através da assiduidade verificada nos concertos realizados. A juntar a este facto, realça-se a reacção espontânea e positiva, de receptividade aos programas musicais e aos vários artistas apresentados. Relembro, por exemplo, que através da simbiose entre Banda Militar da Madeira e Orquestra de Sopros do GCEA, foi possível apresentar concertos com o tenor Carlos Guilherme, com o Pianista Robert Andres, obras em primeira audição de Jorge Salgueiro, etc.

Estes factores indiciam um novo clima cultural, no qual o público se revê na aceitação espontânea e sem preconceitos ideológicos, embora mantendo as devidas reservas de ordem artística. Olhar para uma Banda Militar vestida de verde, ou outro uniforme superiormente estabelecido, conjugada com as multicolores dos vários agrupamentos referenciados, reflecte a abertura de várias janelas no referente à comunicabilidade artística entre Instituições tão distantes na sua génese, mas tão próximas na sua mensagem.

PE: Vivemos numa época de fortes mudanças sociais, que inevitavelmente influenciam a área da educação e das artes. No estado actual do ensino, que desafios se colocam aos intervenientes da educação artística nas próximas décadas?

JMB: Aos intervenientes da educação artística mantém-se o dilema que vem do antecedente, ou seja, a evolução lenta dos padrões de qualidade, visando o espectro da valorização da cultura na sua essência.

Porquê? A formação artística não está dissociada da educação. Diria que a cultura de um povo começa em casa, com a família a educar e valorizar as pequenas coisas que constituem o puzzle da vida.

É deveras surpreendente a receptividade a um determinado programa didáctico-pedagógico da Banda Militar nas Escolas da RAM. Obtemos reacções das mais díspares, que vão desde a concentração e participação espontânea dos alunos, em determinadas escolas, contrastando com outras, cujos discentes reagem com indiferença, desmotivação e falta de entusiasmo. Essas reacções não acontecem por acaso. Na maioria dos casos estão de acordo com os núcleos sociais e as zonas demográficas a que pertencem.

Torna-se difícil responder concretamente à questão colocada. A Banda Militar, quer através da sua formação tipo, quer através dos seus agrupamentos de música de câmera, num projecto liderado pelo GCEA há aproximadamente vinte anos e cuja aprovação dos sucessivos Comandantes da Zona Militar da Madeira tem sido uma constante, tem contribuído para a cultura musical dos jovens alunos madeirenses.

O GCEA é pioneiro na formação artística ao nível do Ensino Básico. O seu exemplo na matéria tem recolhido aprovações e elogios de vários quadrantes sócio-culturais do país. Termino desejando-lhe as maiores venturas e prosperidades.

A Banda Militar regozija-se e sente-se privilegiada por participar neste projecto de formação artística e manifesta a sua disponibilidade para dar continuidade.

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